sexta-feira, 27 de março de 2015

Pesquisa detecta a presença de bactéria em praças e parques de Prudente

Listeria está presente no solo e pode causar infecção em humanos e animais. Estudo foi divulgado nesta quinta-feira (26)

Uma pesquisa revelou que o solo de Presidente Prudente pode ser considerado como potencial fonte de infecção, contaminado pelas fezes de animais ou pelo transporte mecânico da bactéria Listeria em sola de calçados. A descoberta foi feita pela enfermeira e professora Miriam Úbida Sales, da

Universidade do Oeste Paulista (Unoeste). O objetivo do mestrado em ciência animal foi avaliar a prevalência da bactéria em praças e parques públicos do município. O foco foi em duas espécies: monocytogenes e ivanovii, capazes de produzir doenças que se multiplicam dentro do organismo humano e animal.

Ela desenvolveu sua pesquisa com amostras de solo nas cinco regiões urbanas: central, leste, oeste, norte e sul. De acordo com a instituição de ensino, como a sobrevivência da Listeria no solo é por tempo limitado, é mais frequente que apareça nas fezes e, como as pessoas costumam levar e soltar animais domésticos para defecar nas praças, “esses locais estão mais sujeitos a incidência da bactéria também chamada de micro-organismo”.

Segundo o estudo, a espécie monocytogenes pode apresentar manifestações clínicas de infecções em seres humanos, sendo mais suscetíveis idosos, gestantes, fetos, recém-nascidos e imunocomprometidos. “Os idosos podem contrair gripe sazonal, meningite, septicemia, encefalite e endocardite. Nas mulheres grávidas, a gripe sazonal com ações congênitas pode provocar abortamento, nascimento prematuro e feto natimorto”, aponta o estudo.

Aos que acabaram de nascer, pode causar meningite, com o desenvolvimento da doença de uma a quatro semanas, ou a septicemia neonatal, que presenta 60% dos casos. Nos imunocomprometidos, entre os quais estão portadores do vírus da Aids, causa meningite, septicemia, encefalite, pneumonia, periotonites e ostilomielites. Em bovinos, caprinos e coelhos, a espécie monocytogenes pode causar encefalite, da forma nervosa; abortamento; septicemia e endoftalmite de forma ocular. Nos bovinos, uma mastite rara; em cães, gatos e equinos, aborto e encefalite rara; em suínos, abortamento, septicemia e encefalite; e nas aves, septicemia. A espécie ivanovii atinge ovinos, provocando abortamento.

As coletas de solo, arenosos e argilosos, ocorreram em 57 das 169 praças e parques da cidade. Rotatórias, fundos de vale e praças sem área verde foram excluídos, como no caso do Parque de Uso Múltiplo (PUM). Incluindo o Parque do Povo - a maior área verde urbana -, nas 57 praças foram feitas as coletas de 117 amostras em áreas de descanso, recreação infantil, ajardinamento e prática esportiva (campos gramados e os de areia).

Em cinco das 57 praças, foi encontrada a bactéria. Das 117 amostras, em sete havia a presença de Listeria. Em cinco praças foram isoladas bactérias com potencial patogênico; capazes de transmitirem doenças, conforme análises laboratoriais. Em teste de sensibilidade, de sete bactérias com potencial patogênico, três (42,95%) apresentaram resistência ao tratamento com ampicilina; quatro (51,7%) ao cloranfenicol; cinco (71,4%) a rifampicina, sulfazotrin; e tetraciclina; e sete (100%) à ciprofloxacina e gentamicina; sendo que desses micro-organismos, isolados para o teste, todos apresentaram resistência a quatro ou mais antibióticos.

O potencial hidrogeniônico (pH), independentemten de ser mais ácido ou mais alcalino, não interferiu na presença da bactéria objeto de estudo.

O estudo realizado na Unoeste foi avaliado como de grande dimensão pelo pesquisador Willian Marinho Dourado Coelho, vinculado à Faculdade de Ciências Agrárias de Andradina e que esteve na banca examinadora da dissertação de mestrado de Miriam, levada à defesa pública nesta quinta-feira (26).

"Trabalho de muita importância. Trata-se de um micro-organismo que tem virulência de até 40%, além de ser patogênico. O resultado desse estudo gera um centro de dados interessante para o município. Esse é assunto que deve ir além do mundo científico, pois a população precisa saber desse tipo de coisa que requer atenção e cuidados por parte das pessoas em geral", disse o examinador.
Educação sanitária

O mestrado foi orientado pelo professor Rogério Giuffrida, que afirmou ao iFronteira que a pesquisa serve como um alerta à população. “O resultado foi dentro do esperado. Essa bactéria existe aqui e em outros lugares, como na Europa e nos Estados Unidos. Além disso, há outras bactérias presentes no solo também, até mesmo mais perigosas do que essa”, salientou.

Segundo ele, pela primeira vez uma pesquisa do gênero foi desenvolvida na cidade. “Deve ser ainda a segunda feita no país. O mais comum é ter essa bactéria em terra adubada, por causa do esterco, mas a pesquisa comprovou que ela pode estar presente também em terra não estercada”, ressaltou.

Outro ponto que Guiffrida destacou é que não há como evitar a contaminação e que o melhor a se fazer é a educação sanitária. “Ninguém deve deixar de frequentar os parques e praças, mas a população deve ser mais higiênica, estar de olho em crianças que brincam na terra, com chupeta que cai no chão e é colocada na boca, mexer na terra e pegar nos alimentos sem lavar as mãos. Para quem leva os animais no parque, para que tenha higiene com as fezes, limpando o cocô. Não há nada que se possa fazer a não ser ter cuidado”, explicou.

Agora, o orientador relatou que a pesquisa será entregue à Secretaria Municipal do Meio Ambiente. “Foi um dos compromissos firmados com o secretário [Wilson Portella Rodrigues] quando pedimos autorização para fazer a coleta das amostras”, finalizou.

Outro lado
Procurado pelo iFronteira, o secretário municipal do Meio Ambiente, Wilson Portella Rodrigues, confirmou que autorizou que fosse feita a pesquisa nas praças e nos parques de Presidente Prudente. Ele afirmou ainda que aguarda o resultado do estudo para poder analisar e se pronunciar sobre as eventuais medidas que podem ser adotadas a respeito do assunto.

Ifronteira.

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